segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Después de la tormenta

Hoje eu só tenho motivos para ser grata. Passei um ano sendo a valentia em pessoa. Depois de um torvelinho de emoções violentas onde fui presa no ano passado, meu emocional virou uma zona. Lidei com isso da melhor maneira que pude, da única maneira que sei: de frente. Arranjo logo um trabalho pra ocupar minha mente, pra não deixar a peteca cair, pra ser boa em alguma coisa, pra ter sucesso em alguma coisa, para mostrar pra mim mesma que eu sobrevivo. E eu sobrevivi. Como aqueles camponeses que vão pra lida mesmo doente, pois o que há de se fazer? Sentar e ver a vida passar em meio às lágrimas desajustadas e muitas vezes sem explicação que insistem em correr? Not my style. At all.

Embora ele não fale muito sobre os processos dentro dele, meu marido também esteve convalescente. Acho que ainda estamos. Não há como fingir que não foi punk, porque foi. Sim, eu fiquei depressiva. Sim, eu me vesti com roupas que não me espelhavam, usei um cabelo que não me espelhava, escolhi atividades que nada tinham a ver comigo, me dediquei aos outros e pouco à mim. Sabendo de tudo isso, desejando mudar tudo isso e ocultando esse desejo de mim mesma. E quando eu me lembrava de alguns momentos, chorava de pena daquela eu que tinha passado por tudo aquilo. Um choro que vinha, inconveniente, com lágrimas doídas que eu logo fazia questão de secar.

Hoje eu olho pra mim e me reconheço exatamente como a minha casa. Passou anos sendo a casa de três, e com as nossas características tais como éramos. Quando tudo começou a ruir, a casa começou a se tornar insuportável. Nos mudamos para poder mexer na casa e assim voltarmos para uma vida nova. Qual não foi a surpresa que o destino nos reservou quando a vida nova começou antes de voltarmos pra casa, e ela estava exatamente do jeito que deixamos.

Eu tinha raiva da casa. Tinha vontade de largar tudo, de ir embora. Não me sentia em casa, ela tinha tantos problemas estruturais! Nada do que pensávamos em fazer, no final das contas, parecia funcional. Parecia que não tinha jeito, eu tinha vontade de implodir aquela casa e morar numa caixa de papelão. E não é exagero.

Uma reformulação quase integral se fazia necessária e começamos. Tínhamos um cronograma e temos amigos maravilhosos que dão mãos, braços, pernas, ideias, ouvidos, tudo o que podem para ajudar. E então vieram períodos de chuvas intermináveis, compromissos inadiáveis no PT, dificuldades financeiras, greve dos bancos, tudo. Tudo isso nos atrapalhou imenso e nos atrasou mais ainda. Não teve problema. Firmes e fortes, nosso moto. Rir para não chorar, a lei.

Na semana passada tivemos a última grande perda. Cupins mais uma vez. Já tivemos várias infestações, eles estão debaixo da nossa casa. Mas desta vez, levaram muitas coisas de valor sentimental. Muitos livros importantes e muito do passado. Doeu, muito. Mas fizemos o que podíamos com a adversidade: transformá-la numa coisa boa. Muita coisa precisou ser jogada fora. Muita coisa mesmo. Então jogamos, com passado e tudo. Limpamos, deixamos o destino nos ajudar a enterrar os restos mortais de uma vida que não nos pertence mais. E foi bom. Abrimos espaço na nossa vida e de nos empolgamos com isso.

Só que da mesma forma que ficam pelo chão aquelas coisas que são importantes, mas você não sabe o que fazer com elas, eu fiquei cheia de caquinhos e a simples visão deles me faz oscilar. Entrei num processo de me autoboicotar com a faculdade e não tenho mais certeza de que quero ter um bebê - durante meses, a minha "promessa" de que teria uma vida nova e mais feliz - e isso me fez ficar muito abalada, frágil, deprimida. Tudo isso, junto com as dificuldades em terminar a obra da casa, o fato de ter chegado uma cachorrinha na minha casa com dois filhotes que morreram e a adoção dessa cachorrinha (que está bem), culminou na eclosão de uma lesão de herpes labial ontem, pra completar o quadro da miséria.

Decidi, então, tentar resgatar as coisas que eu fazia antes de ficar mal e adaptá-las para essa nova vida. O Projeto Stop Onicofagia e a decisão de não alisar mais os cabelos são exemplos dessas coisas. Costurar também é algo essencial e estou organizando meus espaços na casa para poder fazer isso sem ficar toda torta. rs. E a coisa mais importante de tudo isso, foi ver meu marido ontem, todo animado em mexer em coisas da "casa nova". Realmente animado! Hoje pela manhã até me trouxe um vasinho de planta ornamental para colocarmos no nosso quintal e é por isso que eu estou vendo la calma, llegando después de la tormenta.

Como não me sentir grata por ter sobrevivido a tudo isso?
Every little thing is gonna be alright.

Naluh

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